Uma filósofa norueguesa fez uma proposta controversa envolvendo morte cerebral e gravidez. Anna Smajdor, professora da Universidade de Oslo, na Noruega, sugeriu que mulheres mortas nessas condições — isto é, que ainda tenham o coração batendo — sirvam barriga de aluguel no país. Segundo ela, a iniciativa seria similar à doação de órgãos, quando o paciente autoriza a ação antes de falecer.
Segundo a estudiosa, a prática ajudaria “pais que querem ter filhos, mas não podem”, como casais inférteis ou gays, além de ser uma “opção mais víavel” para mulheres que preferem não gestar uma criança. Ela defende que, para o último caso, seria possível evitar riscos à saúde feminina, como pressão alta, e trauma emocionais resultantes do processo.
Em uma publicação no jornal acadêmico “Theoretical Medicine and Bioethics”, Smajdor disse que é “surpreendente” nenhum país ter permitido até hoje que mulheres doem seus corpos para barriga de aluguel após a morte cerebral. A ideia foi difundida por médicos pela primeira vez nos anos 2000.
“Qualquer mulher que queira evitar os ‘riscos e fardos’ de estar grávida deve ter acesso a essa forma de barriga de aluguel. A gravidez e o parto acarretam riscos significativos à saúde, e são mais mortais que o sarampo”, escreveu ela na publicação.
Apesar de apoiar a causa, a filósofa admite que não há dados suficientes para comprovar se o corpo de alguém com o cérebro morto tem condições de gestar um bebê de maneira bem sucedida.
“Ainda não podemos abrir mão do útero para a reprodução de nossa espécie. Mas podemos transferir os riscos da gestação para aquelas que não podem mais ser prejudicadas por eles”, defendeu Anna Smajdor. “Doar o corpo para barriga de aluguel não está além das possibilidades, pois há evidências crescentes de que a gravidez pode ser levada até o fim entre mulheres que sofreram morte cerebral”, complementou.
A morte cerebral é permanente, o que significa que a pessoa afetada nunca recuperará a consciência ou começará a respirar por conta própria. Nessas condições, o indivíduo é legalmente confirmado como morto. Esse tipo de morte pode ser causado por parada cardíaca ou ataque cardíaco, ou outras lesões que interrompem o fornecimento de sangue ou oxigênio ao cérebro.
Em 2019, a ex-atleta portuguesa de canoagem, Catarina Sequeira, deu à luz o filho Salvador, três meses depois de ter sido declarada sua morte cerebral. Ela sofreu um ataque agudo de asma. À época, o pai da criança disse que ele estava bem de saúde.
Texto: EXTRA