Um dos palcos mais antigos da história do futebol catarinense, o Estádio Aníbal Torres Costa, está completando 83 anos nesta sexta-feira, dia 2 de fevereiro. A área onde está situado o estádio, que deverá ser demolido dentro de alguns anos, já não pertence mais ao Hercílio Luz, mas as memórias vivenciadas neste espaço – da figueira as quatro linhas – desde os anos 40 deixam um rico legado ao futebol de Tubarão e de Santa Catarina.

Área adquirida e construção

Em 1938, vinte anos depois da fundação do clube, após disputar jogos em campos pelo município, a direção do Hercílio Luz adquiriu uma área pertencente à família Zapelini. A construção do novo estádio durou cerca de três anos até a inauguração em um amistoso diante do Atlético Catarinense em 2 de fevereiro de 1941.

A partida terminou empatada em 1 a 1. Não há registro dos autores dos gols.

Homenagem à Aníbal Costa

O nome do estádio foi batizado em homenagem ao engenheiro Aníbal Tôrres Costa. Presidente do clube, idealizou o projeto de construção do espaço para receber os jogos do Hercílio Luz. Por unanimidade entre os membros da diretoria, decidiu-se homenagear o mandatário com o nome do estádio.

Aníbal Costa foi diretor-geral da CSN (Companhia Nacional Siderúrgica), e também presidiu a Ferrovia Tereza Cristina e a Câmara de Vereadores de Tubarão.

Pioneirismo nos anos 50

A década de 50 foi a mais marcante dos 105 anos de história do Hercílio Luz. A equipe tubaronense conquistou o inédito título estadual em 1958 e o bicampeonato no ano seguinte. O estádio Aníbal Costa recebeu jogos da competição, incluindo as partidas da final contra o Carlos Renaux. O troféu, no entanto, em ambas as ocasiões, foram erguidos em Florianópolis.

O Estádio Aníbal Costa , já no fim da década de 50, se tornou pioneiro. A casa colorada tornou-se o primeiro estádio do futebol catarinense a receber uma competição de nível nacional, a Taça Brasil, considerado na época o Campeonato Brasileiro.

Em 23 de agosto de 1959, o Hercílio Luz recebeu o Atlético Paranaense (hoje Athletico) e perdeu pelo placar de 2 a 1. O duelo era válido pelo ‘grupo Sul’ da competição. A partida teve arbitragem do uruguaio Julio Salsamendi.

Luizinho fez o gol colorado. Tião e Gaivota marcaram para os paranaenses.

Um jogo que está na história do futebol tubaronense.

As equipes formaram assim:

Hercílio Luz: Pipa; Adir e Rato; Ernesto, Parafuso e Ernani; Galego, Camanga, Luizinho, Vitoldo e Gonzaga.

Atlético Paranaense: William; Lindomar e Borracha; Belfare, Tocafundo e Sano; Isabelino, Gaivota, Taíco, Jerônimo e Tião.

Enchente de 1974

Assim como boa parte de Tubarão, o estádio Aníbal Costa também foi destruído pela maior enchente já enfrentada pela cidade em sua história. O pouco que restou ainda serviu de abrigo para famílias afetadas pela enxurrada.

Reinauguração com nova arquibancada

Em 13 de outubro de 1985, o Hercílio Luz reinaugurou o estádio Aníbal Costa com novas arquibancadas. Naquela partida, válida pelo Campeonato Catarinense e disputada em um domingo, o Leão do Sul venceu o Joinville por 2 a 1 com gols de Mika e Serginho.

Palco de grandes jogos do Tubarão FC

Depois da licença do Hercílio Luz e o fim do Ferroviário, surgiu o Tubarão Futebol Clube. O Peixe passou a utilizar o Aníbal Costa em 1995 após assinatura de contrato de parceria com o Leão do Sul.

Com jogos no Aníbal Costa, o Tubarão participou de campanhas históricas no Estadual, conquistando algumas vezes o título de primeiro e/ou segundo turno. Em 1998, foi vice-campeão após jogo polêmico com o Criciúma na cidade do time mandante.

No mesmo ano, foi campeão da Copa SC em cima do próprio Tigre. O primeiro jogo da decisão ocorreu em Tubarão, com vitória por 1 a 0. Na volta, no Majestoso, o Peixe também venceu, desta vez por 2 a 1.

Em 2002, na Copa Sul Minas, o Tubarão também recebeu grandes equipes do futebol brasileiro, em partidas que proporcionaram alguns dos maiores públicos do estádio. Clubes como Atlético-MG e Grêmio vieram até o Aníbal Costa.

A equipe tubaronense terminou a competição com a quinta colocação.

– Tubarão 1×1 Grêmio

– Tubarão 1×0 Atlético-MG 

Venda da área

Em maio de 2018, a direção acertou a venda do Aníbal Costa por R$ 12 milhões. A área de 24 mil m² foi comprada pela 3-Sm Administração de Bens, empresa de São Ludgero. A empresa que adquiriu o local é de propriedade de Marcos Schlickmann, atualmente um dos sócios investidores da SAF hercilista.

Esse é um dos motivos para que o clube organize sem pressa as questões da construção do novo estádio no bairro São Martinho – um novo projeto foi idealizado do zero pela SAF. Como ainda não há nenhum empreendimento em vista de ser implementado no local, o clube segue mandando seus jogos no Aníbal Costa.

A expectativa é de que dentro de alguns anos o estádio seja demolido e um grande empreendimento seja feito no local para fomentar ainda mais o desenvolvimento do município.

Maior invencibilidade e grande público

Já neste século, em episódio bem recente, o estádio Aníbal Costa foi palco de uma das maiores invencibilidades de um clube catarinense na história e do maior público do futebol tubaronense desde 2000.

Entre novembro de 2021 e novembro de 2023, o Hercílio Luz esbanjou uma invencibilidade de 33 jogos, ganhando inclusive repercussão nacional como a “maior invencibilidade do Brasil” como mandante até o seu fim.

O Intrépido também recebeu o maior público do futebol de Tubarão desde a virada do século. 4680 torcedores se fizeram presentes na vitória por 2 a 1 diante do Criciúma, no jogo de volta da semifinal do Campeonato Catarinense 2023.

Futebol: paixão que transcende as quatro linhas

Diversas gerações de torcedores apaixonados passaram pelo Aníbal Costa. As histórias ecoam pelas arquibancadas de concreto do estádio colorado há mais de oito décadas. O Infosul reuniu depoimentos de torcedores do Intrépido.  Confira:

 – Rodrigo Adriano Fausto  

“Vivi diversos momentos de alegria e tristeza no Aníbal Costa. Lembro de ter assistido a um jogo do Hercílio Luz com apenas 21 pessoas e uma temperatura de 5 graus, numa quarta-feira à noite, contra o Guarani de Palhoça na Serie B. Estava realmente muito frio (risos). Hoje, ao observar o crescimento do Hercílio Luz, sinto um orgulho imenso.

Um momento inesquecível ocorreu na semifinal da Copa SC de 2018, quando eliminamos nosso rival. Outro foi quando enfrentamos a Chapecoense no sábado de carnaval. Nesse dia, demos um show e vencemos por 3 a 0, fora o baile, parecia até um bloco de carnaval (lembro da narração do Eduardo Ventura no gol do Tito, se não me engano).

Como bônus, destaco a Copa SC de 2022, quando levei minha filha pela primeira vez a um jogo do Hercílio. Sempre sonhei em ter um filho e levá-lo ao Aníbal Costa, e hoje ela adora ir e brincar com o Leopoldo. É realmente gratificante ver essa paixão passando de geração em geração.”

– Gabriel de Souza Oliveira

“Eu sempre vim aos jogos do Hercílio Luz. Quando eu era ‘de menor’, gurizão, tinha um amigo, um senhor já de idade que ficava com o rádio ligado lá no interior, onde a gente morava, e eu gostava de escutar os jogos lá no Seu Antônio. Comecei a torcer pelo Hercílio desde pequeno. Eu já sabia algumas coisas do clube e comecei a acompanhar. Sempre participo dos jogos e não deixo de ir.

Já venho aos jogos há muitos anos. Tenho 75 anos e desde os 16 me lembro que já vinha aqui.

Tem vezes que saímos daqui meio invocado com o juiz, quando ele puxa um pouquinho para o outro lado. Uma vez, o Joinville jogando aqui, e o Dalmo Bozano (se não me engano), puxou muito para o Hercílio Luz para favorecer um outro time. Nossa torcida ficou revoltada, porque não precisava fazer aquilo. Ele puxou para nós para favorecer outro time e o Joinville perder a partida.

A gente sempre quer ver vitória, quer ver gol. Não tenho um lugar preferido, mas eu até gosto bastante de ir na descoberta. Eu sempre compro pra vir na coberta, mas se o tempo tiver bom, eu vou na descoberta.”

– Fabiano Camilo (@fanatico_hercilista)

“A minha história com o Aníbal Costa é desde a minha infância. Eu morava na rua de trás do estádio e minha casa ficava em frente ao portão. O estádio era meu quintal de casa praticamente. Tava sempre por ali, brincando, correndo subindo na figueira.

Quando tinha jogos, eu entrava com os jogadores. Naquele tempo, tinha um túnel que quando chovia enchia tudo. Hoje as crianças vão e voltam para a arquibancada, mas na época eu ficava no campo, no banco de reservas. Lembro de ter ficado várias vezes. Não tinha problema. Era no final dos anos 80.”

RECADO DO ÍDOLO

Maior craque revelado pelo Hercílio Luz, o ídolo Zenon, que teve passagens por Avaí, Corinthians, Guarani, entre outros clubes do futebol brasileiro, também lembra com carinho do Aníbal Costa, local ao qual chama de “berço”.

“Gostaria de parabenizar o meu berço, o estádio Aníbal Costa, que completa 83 anos de existência. São muitas histórias e conquistas. Gostaria de agradecer pois foi no Aníbal Costa que iniciei a minha carreira como atleta profissional de futebol. Parabéns a todos os hercilistas e amantes do futebol. Sem dúvida nenhuma, todos tem pelo Aníbal Costa um grande respeito”, disse.